O desenvolvimento infantil não acontece apenas através da visão, audição ou tato. Existem sentidos internos fundamentais que organizam o corpo e permitem que a criança explore o mundo com confiança: a proprioceção e o sistema vestibular. Estes dois sistemas trabalham em conjunto para dar suporte à postura, coordenação, aprendizagem e autorregulação.

A proprioceção é o sentido interno que informa o cérebro sobre a posição e a força do corpo em movimento. É ela que permite que uma criança suba escadas sem olhar para os pés, ajuste a força ao segurar um lápis ou consiga vestir-se de forma coordenada. A proprioceção dá segurança, apoia a estabilidade postural e fornece a base para o planeamento motor ou práxis — ou seja, a capacidade de planear e executar ações com eficiência. Quando este sistema não funciona de forma adequada, a criança pode tropeçar com frequência, aplicar força em excesso ou procurar constantemente experiências de pressão e impacto para se organizar.

Já o sistema vestibular, localizado no ouvido interno, é responsável por detetar movimento e posição da cabeça e a relação do corpo com a gravidade. Ele ajuda a manter o equilíbrio, estabiliza o olhar enquanto a cabeça se move e contribui para a regulação da atenção e do estado de alerta. O vestibular é essencial para atividades simples como correr sem cair, saltar com segurança, manter a postura de sentado na sala de aula ou focar um objeto enquanto o corpo se movimenta. Alterações neste sistema podem levar a medos exagerados face ao movimento, instabilidade postural ou dificuldade em coordenar os dois lados do corpo.

Quando bem integrados, proprioceção e vestibular tornam-se a base sobre a qual outras competências se constroem. São fundamentais para o brincar, a autonomia nos cuidados diários, a participação escolar e a interação social. Estão diretamente ligados à coordenação bilateral, ao controlo ocular, à estabilidade contra a gravidade, à atenção e até à regulação emocional. Ao desafiar estes sistemas com atividades adequadas — como empurrar, puxar, escalar, baloiçar, saltar ou rebolar — a criança fortalece a consciência corporal, aprende a organizar o movimento e ganha confiança nas suas capacidades.

Na intervenção de Terapia Ocupacional com enfoque em Integração Sensorial, o trabalho dirigido à proprioceção e ao vestibular não é feito de forma isolada, mas integrado em experiências significativas e lúdicas. O objetivo é ajudar a criança a construir bases sólidas que lhe permitam explorar, aprender e relacionar-se com o mundo de forma segura e autónoma.

Brincadeiras e atividades para estimular proprioceção e vestibular

Para estimular a proprioceção:

  • Trabalhos pesados no brincar: empurrar e puxar carrinhos, caixas ou brinquedos grandes.
  • Transportar objetos: levar garrafas de água, livros ou brinquedos de um lado para o outro.
  • Brincadeiras de compressão: enrolar a criança como um “sushi” num cobertor ou colocar almofadas e pufes em cima da criança como uma “sandwich”.
  • Saltos: saltar à corda, num colchão ou trampolim; jogos de bater com os pés no chão ao ritmo da música.
  • Modelagem e manipulação: brincar com plasticina, massa de modelar, legos.
  • Jogos de luta: “braço de ferro”, luta de almofadas, puxar a corda bilateralmente.
  • Escalada: subir estruturas de parque, rampas ou paredes adaptadas.

Para estimular o vestibular:

  • Baloiços: usar baloiços, camas de rede, cadeiras suspensas, variando a direção.
  • Girar de forma controlada: rodar numa cadeira giratória, piruetas, rebolar no chão.
  • Ginástica: trampolim, cambalhotas, pino, estrela.
  • Jogos de equilíbrio: andar em linhas no chão, caminhar sobre almofadas, atravessar traves baixas.

Atividades que integram ambos os sistemas:

  • Circuitos motores: combinar saltos, rastejar, empurrar objetos, equilibrar-se e girar.
  • Brincadeiras de faz de conta: imitar super-heróis ou animais.
  • Jogos de roda e danças: girar de mãos dadas, dançar com movimentos variados.
  • Desporto: futebol, basquetebol, judo, yoga, corrida com obstáculos.

Conclusão

A proprioceção e o sistema vestibular são muito mais do que “sentidos motores”: são bases indispensáveis para o brincar, aprender, regular emoções e crescer com autonomia. Quando bem estimulados e integrados tornam-se aliados poderosos no desenvolvimento infantil.