
Quais são os melhores materiais e atividades para estimular a coordenação motora das crianças?
A coordenação motora é a capacidade de o cérebro planear e executar movimentos harmoniosos, integrando informações dos sentidos. Segundo Jean Ayres, a integração sensorial é o processo neurológico que organiza sensações do corpo e do ambiente, permitindo usar o corpo de forma eficiente. O cérebro da criança recebe sinais da visão, tato, sistema vestibular (equilíbrio), proprioceção (posição corporal), entre outros, combinando-os para gerar movimentos precisos. Quando esta integração funciona bem, a criança desenvolve competências motoras finas (ex.: pegar objetos pequenos, escrever) e globais (ex.: sentar, gatinhar, andar, correr).
Estudos indicam que brincadeiras sensoriais – como explorar texturas, baloiçar, saltar ou rolar – ajudam a criar conexões cerebrais importantes para estas competências. Por isso, incluir atividades sensoriais desde cedo é essencial: além de divertidas, treinam o cérebro a integrar melhor os estímulos, promovendo um desenvolvimento motor saudável.
Nas seções seguintes apresentamos, por faixa etária, sugestões de materiais e brincadeiras simples para estimular a integração sensorial e o desenvolvimento motor em casa.
Bebés (0–12 meses)
Materiais recomendados: brinquedos coloridos e fáceis de segurar (móbiles visuais, chocalhos, mordedores de várias texturas), cartões ou livros com imagens de contraste (preto, branco, vermelho), espelhos infantis seguros, tapetes ou superfícies macias. Estes objetos estimulam a visão, o tato e a audição. Ex.: um móbile colorido mantém o olhar atento; chocalhos encorajam a segurar e agitar; espelhos ajudam a reconhecer o próprio corpo.
Como ajudam: brincar com objetos que o bebé pode alcançar, empurrar ou puxar estimula a coordenação dos movimentos. Movimentos repetidos como agarrar e largar fortalecem músculos das mãos (motricidade fina) e o controlo do tronco (motricidade global). Atividades como bater palmas ou embalar o bebé também contribuem para o desenvolvimento motor.
Atividades em casa: rotina diária de tummy time (deitar de barriga para baixo), mesmo que por poucos minutos, para fortalecer pescoço, costas e ombros. Durante o tummy time, aproximar brinquedos para incentivar o alcance. Brincar ao “cu-cu”, fazer sons mais expressivos e oferecer brinquedos sonoros. Mostrar fotos da família e oferecer brinquedos com várias texturas estimula a visão e o tato.
A DGS e a Sociedade Portuguesa de Pediatria recomendam pelo menos 30 minutos diários de tummy time, distribuídos ao longo do dia, bem como oportunidades para rolar, agarrar e empurrar objetos, essenciais para criar mapas neurais para futuros movimentos.
Toddlers (1–3 anos)
Materiais recomendados: brinquedos que incentivem movimento e coordenação (triciclos, scooters, carrinhos de empurrar), bolas leves, mini-trampolim, baloiços, blocos ou legos grandes, brinquedos de encaixe (formas geométricas), plasticina, lápis de cera grossos, caixas ou recipientes para encher e esvaziar. Estes materiais desenvolvem tanto a coordenação global como a fina.
Como ajudam: correr, subir escadas ou brincar no parque trabalha equilíbrio e controlo motor global. Jogar à bola ou correr entre obstáculos exercita equilíbrio e consciência corporal. Atividades manuais, como encaixar peças ou brincar com colheres e recipientes, treinam coordenação olho-mão e fortalecem músculos das mãos. Brincadeiras sensoriais com água, areia, slime, espumas ou tintas desenvolvem perceção táctil e consciência corporal, fundamentais para a motricidade fina.
Atividades em casa: criar pistas no chão com fita-cola para andar em equilíbrio, montar “oficinas sensoriais” com areia ou arroz, usar plasticina para amassar e rolar, fazer percursos com saltos sobre almofadas, brincar com música e movimentos ou apanhar bolinhas de sabão.
Pré-escolares (3–5 anos)
Materiais recomendados: brinquedos mais desafiantes, como bicicleta ou trotinete, bolas de futebol ou basquetebol infantil, corda de saltar, escorrega, jogos de construção, lápis de cor, tesouras de ponta redonda, contas grandes para enfiar em fios, pinças. Estes materiais envolvem tarefas motoras mais complexas. Ex.: pedalar trabalha equilíbrio, coordenação e ritmo; usar tesoura ou encaixar peças pequenas desenvolve precisão manual.
Como ajudam: nesta idade, as crianças correm, saltam, sobem estruturas e começam a atirar e apanhar bolas. Brincar no parque desenvolve motricidade global e integração dos vários estímulos sensoriais. Atividades artísticas como desenhar, cortar ou montar peças aprimoram coordenação olho-mão. Brincadeiras de faz-de-conta e tarefas do dia-a-dia (vestir, abotoar) fortalecem a destreza manual e a coordenação bilateral.
Atividades em casa: jogos como atirar bola a um alvo, brincar à estátua ou fazer mímicas ajudam mobilidade e consciência corporal. Atividades sensoriais incluem cozinhar juntos, construir fortes com lençóis ou pintar com pincéis. Jogos rítmicos (bater palmas em sequência, dançar) treinam a coordenação entre audição e movimento. Jogos de construção exigem processamento de informação visual e tátil para ajustar os movimentos das mãos.
Estimular a coordenação motora desde cedo é investir no desenvolvimento global da criança, contribuindo para a sua autonomia, aprendizagem e confiança. Através de brincadeiras simples, materiais adequados e momentos de interação, é possível criar experiências sensoriais que fortalecem o corpo e o cérebro. O mais importante é oferecer um ambiente seguro, afetuoso e rico em estímulos, respeitando sempre o ritmo de cada criança para que possa explorar, descobrir e crescer de forma saudável e feliz.