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Como tornar a hora da refeição mais fácil para crianças com dificuldades alimentares?

Como tornar a hora da refeição mais fácil para crianças com dificuldades alimentares?

Uma perspetiva da Terapia Ocupacional

Compreender os desafios sensoriais na alimentação

Dificuldades alimentares em bebés e crianças podem transformar a hora da refeição numa verdadeira batalha. Muitas destas crianças são muito seletivas ou têm questões sensoriais que as tornam muito sensíveis à aparência, textura ou sabor dos alimentos. Para uma criança com dificuldades de processamento sensorial, o cheiro, a textura ou mesmo a cor de um alimento pode desencadear uma reação negativa intensa – levando à recusa alimentar ou seletividade extrema.

Estas reações não são birras. São sinais de um sistema nervoso que se sente sobrecarregado. Isto pode afetar negativamente o dia a dia das crianças e famílias. A seguir, reunimos dicas para ajudar a tornar as refeições mais tranquilas e agradáveis.

Criar uma rotina de refeição consistente

Bebés e crianças precisam de previsibilidade. Uma rotina ajuda a reduzir a ansiedade e aumenta a aceitação alimentar.

  • Estabeleça horários fixos para refeições e lanches. Evite snacks entre refeições.
  • Use rituais simples: lavar as mãos, cantar uma música, colocar o babete.
  • Evite distrações como TV, telemóvel e brinquedos na mesa.

Com o tempo, a rotina envia uma mensagem: “a refeição é um momento seguro e previsível”.

Introduzir brincadeiras sensoriais fora das refeições

Brincar com a comida, sem pressão para comer, é uma excelente forma de ajudar a criança a familiarizar-se com novos alimentos.

  • Pinte com iogurte ou purê de frutos/legumes.
  • Use bonequinhos ou animais para interagirem com alimentos reais.
  • Leia livros sobre comida e explore ingredientes relacionados.
  • Diga sempre: "Não precisas de comer, é só para brincar."

Isto reduz o medo e torna os alimentos mais familiares e menos ameaçadores.

Adaptar a textura e apresentação dos alimentos

Pequenos ajustes podem fazer uma grande diferença:

  • Comece com texturas que a criança já tolera.
  • Ofereça porções pequenas e separadas.
  • Use pratos com divisórias.
  • Apresente os alimentos de forma divertida (formatos, carinhas).
  • Inclua sempre um alimento "seguro" e conhecido, quando introduz algum novo alimento.

Estas mudanças respeitam os limites sensoriais e incentivam a exploração.

Construir um ambiente positivo

O clima emocional influencia muito o comportamento alimentar:

  • Sente-se para comer ao mesmo tempo que o seu filho. Refeições em família são muito importantes.
  • Evite forçar, negociar ou recompensar com comida.
  • Elogie pequenos avanços ("Cheiraste a cenoura, muito bem!").
  • Mantenha a conversa leve e o ambiente calmo.

Uma refeição sem pressão promove confiança e abertura à novidade.

Quando procurar ajuda profissional

Procure um terapeuta ocupacional se:

  • A criança come menos de 20 alimentos.
  • Evita grupos inteiros de alimentos ou texturas.
  • Demonstra choro, vómito ou stresse extremo ao comer.
  • impacto no crescimento ou nutrição.
  • Demora mais que 30 minutos a fazer a refeição.
  • Não permanece sentado à mesa para a comer.

O terapeuta ocupacional, especializado em integração sensorial, pode trabalhar com a criança de forma gradual, respeitosa e lúdica, ajudando-a a ampliar a variedade alimentar com segurança. No momento da avaliação pode ser identificada a necessidade de avaliação por outros profissionais como o terapeuta da fala, psicólogo, nutricionista, gastroenterologista, pediatra, pedopsiquiatra, entre outros.

Como funciona a avaliação e intervenção de terapia ocupacional com integração sensorial?

O terapeuta ocupacional avalia o perfil sensorial da criança, as rotinas e o contexto, e desenvolve um plano individualizado para ajudar na tolerância a diferentes alimentos e sensações e modificações que sejam necessárias no contexto e/ou rotinas. As sessões de intervenção podem incluir:

  • Atividades ricas em estímulos proprioceptivos, vestibulares e de tato profundo (como baloiçar, transportar objetos mais pesados, mergulhar para pufes), que ajudam a regular o sistema nervoso.
  • Exposição gradual a texturas de forma lúdica e prazerosa (ex: areia, massas, espuma de barbear, happy senso, slime, gelatina, alimentos reais).
  • Uso de materiais orais específicos como brinquedos de sopro, bolinhas de sabão, mordedores, z-vibe com vibração.
  • Brincadeiras estruturadas com alimentos, sempre sem pressão para comer.

A ideia é trabalhar questões sensoriais que possam estar na base destas dificuldades, assim como promover a aceitação dos alimentos de forma divertida e respeitosa. O progresso é gradual e baseado em metas realistas. A família e a escola também são orientadas, criando um trabalho em equipa entre terapeutas, educadores, pais e criança.

Conclusão

Cada pequeno passo é uma vitória. Com paciência, criatividade e apoio profissional, é possível transformar a hora da refeição num momento mais leve e positivo.