
Terapia de Integração Sensorial: o que é e como pode ajudar crianças com PEA
A Terapia de Integração Sensorial, também chamada de Integração Sensorial de Ayres (ASI), foi criada na década de 1970 pela Dra. A. Jean Ayres para ajudar pessoas com disfunções no processamento sensorial a organizar e responder adequadamente aos estímulos do ambiente. Esta abordagem é muito utilizada em crianças com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA), pois entre 90% e 95% dos casos apresentam algum grau de dificuldade sensorial e podem beneficiar desta intervenção.
Como funciona em crianças com PEA?
A ASI tem demonstrado aplicabilidade concreta e eficaz no apoio a crianças com PEA, promovendo melhorias significativas em diversas áreas do desenvolvimento. Este tipo de intervenção ajuda a processar e responder adequadamente aos estímulos sensoriais do ambiente. Aplicada por terapeutas ocupacionais especializados, a ASI utiliza atividades lúdicas e estruturadas para promover a organização sensorial e melhorar o desempenho funcional da criança.
Na prática, a ASI desenvolve sessões em ambientes especialmente preparados, equipados com materiais como baloiços, piscinas de bolas, texturas variadas e brinquedos sensoriais. Essas atividades são adaptadas às necessidades individuais de cada criança, visando melhorar habilidades como autorregulação, atenção, coordenação motora e interação social. Ao longo do tempo, a terapia pode contribuir para uma maior autonomia e participação nas atividades diárias, tanto em casa quanto na escola.
Nos últimos anos, diversos estudos científicos têm avaliado a eficácia da ASI em crianças com PEA, fornecendo evidências que apoiam a sua utilização como uma intervenção baseada em evidências.
O que diz a evidência científica?
Diversos estudos científicos, incluindo ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas, demonstram que a ASI promove benefícios significativos em crianças com PEA. Ensaios controlados (Miller et al., 2007; Pfeiffer et al., 2011; Schaaf et al., 2014) e estudos mais recentes (Omairi et al., 2022; Randell et al., 2022; Chan et al., 2023) revelam que crianças submetidas a programas de ASI atingem metas individualizadas de funcionamento pré-estabelecidas, com menor dependência de cuidadores em atividades de autocuidados e melhorias em competências motoras (motricidade global e fina).
Além disto, existem também melhoras em competências sociais (como brincar em grupo, tolerar barulhos ou interagir sem resistência em atividades de grupo) e diminuição de comportamentos de fuga/evitamento sensorial.
Revisões sistemáticas, como Schaaf et al. (2018) e Carter et al. (2019), classificam a ASI como prática baseada em evidências (EBP) segundo critérios de organizações como o Council for Exceptional Children (CEC) e a American Occupational Therapy Association (AOTA), fortalecendo a recomendação de que a ASI seja considerada intervenção de escolha para crianças com autismo.
Em resumo, a Terapia de Integração Sensorial de Ayres tem demonstrado eficácia em melhorar competências funcionais e promover a participação de crianças com PEA em atividades do dia a dia, especialmente quando aplicada com fidelidade por profissionais qualificados.
Como saber se a intervenção cumpre os critérios de fidelidade de ASI?
Aplicar a ASI com fidelidade significa implementar a intervenção de acordo com os princípios e procedimentos originais estabelecidos por A. Jean Ayres. Para garantir a eficácia e a consistência da terapia, foi desenvolvido o Ayres Sensory Integration Fidelity Measure, um instrumento que avalia se a intervenção está a ser conduzida conforme os padrões estabelecidos.
Esta ferramenta identifica dez componentes essenciais que caracterizam uma intervenção fiel à ASI:
- Intervenção individualizada e centrada na criança: as atividades são adaptadas às necessidades específicas da criança, promovendo envolvimento ativo.
- Ambiente físico adequado: espaço que permite atividades físicas vigorosas, com equipamentos suspensos e áreas para diferentes experiências sensoriais.
- Uso de atividades sensoriais ricas: incorporação de estímulos táteis, vestibulares e propriocetivos para promover a integração sensorial.
- Desafios graduais ("just right challenge"): as tarefas propostas devem ser desafiadoras, mas alcançáveis, estimulando o desenvolvimento sem causar frustração.
- Participação ativa da criança: a criança é incentivada a ser um agente ativo na terapia, promovendo autonomia e motivação intrínseca.
- Relação terapêutica colaborativa: o terapeuta estabelece uma parceria com a criança, baseada na confiança e no respeito mútuo.
- Foco em objetivos funcionais: as intervenções visam melhorar a participação da criança em atividades do quotidiano, como brincar, aprender e interagir socialmente.
- Adaptação contínua da intervenção: o terapeuta ajusta as atividades em tempo real, conforme as respostas e necessidades da criança.
- Documentação e monitorização: registo sistemático das sessões para avaliar o progresso e ajustar o plano terapêutico conforme necessário.
- Formação e supervisão profissional: o terapeuta deve possuir formação específica em ASI e participar de supervisões regulares para garantir a qualidade da intervenção.
A aplicação da ASI com fidelidade é fundamental para assegurar que os benefícios observados em estudos sejam replicados na prática clínica. Além disso, diferencia a ASI de outras abordagens sensoriais que não seguem os mesmos princípios estruturados.